Os nomes nos barcos já são pintados há bastante tempo. Antigamente as letras eram simples, pintadas em preto e com traços retos. Hoje, os nomes são coloridos, refinados e repletos de detalhes que representam o estilo de cada pintor, em sua busca por destaque e diferenciação.
O que se sabe é que, em algum momento no século passado, pintores entraram em contato com amostras de fontes tipográficas e a letra simples começou a mudar. Os artistas ribeirinhos de apropriaram da letra decorativa do século XIX, também chamada de letra vitoriana, e a partir daqueles modelos, desenvolveram a pintura de letras compondo a diversidade que atualmente colore os nossos rios.
As letras decorativas do século XIX são sempre maiúsculas, grossas, o que permite inúmeros enfeites em suas hastes. As serifas – terminações das letras – cresceram a ponto de se tornarem mais grossas que as hastes, ou se diversificaram com inúmeros remates: duplos, triplos e as serifas toscanas. Uma das técnicas mais populares foi a simulação da tridimensionalidade.
Os letreiros dos barcos amazônicos compartilham estas características, acrescidas do uso de um código cromático específico, com a predominância da divisão das letras em duas partes. Os chamados "caqueados" (enfeites no corpo da letra) são o elemento criativo e identitário que diferencia a letra decorativa amazônica e identifica a autoria de cada artista.
O objetivo maior da criação dos abridores não é a leitura, e sim a visualização do barco, e o seu reconhecimento, através da palavra/imagem.
A partir da apropriação de um sistema existente, o ribeirinho amazônico cria um código próprio, que dialoga com a região onde vive e resulta da sua relação com esse meio.
The names of the boats have been painted in the Amazon for quite some time, but in the old days the letters were simple, painted in black and with straight lines. Today, the names are colorful, refined, and full of details that show the style of each painter in his quest for prominence and differentiation.
What is known is that sometime in the last century, painters came into contact with samples of typefaces and the simple lettering began to change. Riverside artists appropriated the 19th century decorative typeface style, also called Victorian, and from those models developed the painting of letters composing the diversity that currently colors our rivers.
The decorative letters of the 19th century are always in thick capitals, which allows for numerous decorations on their stems. The serifs - the endings of the letters - grew to the point of becoming thicker than the stems, or diversified with countless endings: double, triple, the Tuscan serifs. One of the most popular techniques was the simulation of three-dimensionality. The Amazonian boat signs share these characteristics, plus the use of a specific chromatic code, with the predominant division of the letters into two parts. The so-called "caqueados" (decorations on the body of the letter) are the creative and identity element that differentiates the Amazonian decorative lettering and identifies the authorship of each artist.
The main objective of the creation of the openers is not the reading, but the visualization of the boat, and its recognition, through the word/image. By appropriating an existing system, the Amazonian river dweller creates his own code, which dialogues with the region where he lives and results from his relationship with this environment.